encontrei uma música que procurava há onze anos. não sabia o nome da banda, o nome da canção. só conhecia os últimos vinte/trinta segundos. ouvir "como te mueves", dos modestia aparte, é regressar à parte dourada e salív(istic)a de uma adolescência semi-perdida. eramos tão inocentes (ou nem tanto...)
surge uma voz que estremece
para as palavras indolentes bailarem
ao lado das serpentes vadias
que percorrem sem remorsos
o livro sobreposto ao corpo inflamado
por ensandecimentos rasgados em sofás de ponta e mola
uma dança inebriante ao som do vento sorrateiro
redobrado de fúrias ocultas
silêncio em cinza, pássaros perdidos,
alma dorida, odor a morte
e dizes-me nos olhos:
- estou tão cansada como tu.
- estou tão cansada como tu.
ouvem-se passos a percorrem lâminas
perpendiculares ao medo e à luz alva
que arrasta a clandestinidade inadiável do ser
um precipício atestado por memórias desejadas
como pétalas de sonho no limiar de cumplicidades
o delinquente que observo num ponto invisível
que reflecte a ressaca empilhada
na máscara amarelecida
instante escrito, percurso rabiscado,
desvario de azuis, jornais antigos
e digo-te nos olhos:
- estou tão cansado como tu.
- estou tão cansado como tu.
avançamos sobre rostos magoados
cegos de certezas e de equívocos
mulheres soldado mortificam-se
as cores do tempo são cinza
os abrigos escondem-se no bolor
dos sulcos secos e de carícias febris
embebecidas pelo suor de jovens prostitutas
que uivam a saudade de velhos lobos do mar
começo a recuperar as horas de sono. por causa disso, ontem, adormeci aos vinte minutos do portugal-brasil. está, cada vez mais díficil, ver um jogo de futebol do início ao fim. só o benfica ainda me mantem acordado. até quando? não sei. estou a ouvir o acústico de R.E.M. na MTV. é bonito, muito bonito, e eu até nem gosto muito deles. mas gosto deste som e da recriação acústica destas canções. é inegável que eles são bons e as canções também, apesar de não me dizerem nada de especial.
(r.e.m., daysleeper... os caffeine nunca terão ouvido esta canção? he he)
ontem regressei a vila do conde com a ana. foi muito bom. ouvir cais de veludo no meu sótão é muito melhor do que ouvir aqui. a aparelhagem alarga a amplitude sonora. denotam-se pequenas falhas. agradáveis. gostei muito de ouvir a maqueta do frei.
voltei a ver os meus avós. tirei fotografias. adormecemos.
e vimos a praia e o mar desde o postigo.
(enquanto caíam pequenas gotas de chuva)
oiço cais de veludo. perdidos no campo, olhos de silêncio, amargo e como o amor (com cuidado) em sequência. foram as quatro canções trabalhadas na última semana e meia. a perdidos no campo parece-me muito mais bonita assim, do que quando tocamos ao vivo, que fica sempre mais agressiva. a linha de guitarra do gonçalo é linda. é como um sorriso na cara da criança amuada. olhos de silêncio, tal como a perdidos no campo, ganha imenso com a incorporação da ana. é fósforo. seis minutos de tantas vezes e de a..., sim. ..na. o desbravar declamado do iuri é monumental., em qualquer uma das duas canções. falta gravar ainda o andré, para ficar concluída a explosão. em breve, espero. e, depois, a amargo com a guitarra do gonçalo fica ainda mais doce. o paradoxo. finalmente, como o amor. com cuidado. é das melhores canções que ouvi até hoje. a composição é fabulosa. o meu trabalho com a ana agrada-me imenso. vai de encontro a algo que procurava fazer no cais. não esperava que saísse assim. poderoso. e que se foda a modéstia.
já não vou a vila do conde há mais de duas semanas. é um bocado estranho, porque sinto-me cada vez mais desligado. vou lá na quarta-feira, em principio, apenas porque quero rever os meus avós - tenho saudades - e ver a praia desde o meu postigo (virado para o mundo).
isto é realmente bom. vi este concerto com o andré, com quem, curiosamente, vi três concertos de kafka no espaço de menos de um mês. estou com saudades de vê-los e ouvi-los. isto é poderoso e este vocalista é... huumm... (mais.do.que.isso).
fumo um cigarro. bebo uma bomba de café - estou completamente viciado, pronto. ouço a demo de FREI, a banda do mário. foram quatro dias intensos e isto, sim, está mais próximo de qualquer coisa (boa). leche-moi, por fim. no fim.
hoje voltei ao cinema para ver o "jack, o estripador". o filme é mesmo mauzinho. só gostei do final. confesso que não gosto de ouvir pessoas a comer pipocas nos cinemas. confesso que detesto ouvir um telemóvel a tocar quando estou a ver um filme no cinema. confesso que acho alguma piada quando os meus vizinhos da cadeira da frente começam a dar linguados no meio de um filme com cenas realmente nojentas.
(ah, a heather graham é mesmo bonita. e gostei do johnny depp. tá-se.)
ama-me no silêncio da manhã
entre escombros de polaroids carbonizadas
e desenhos a canivete na tua pele de leite
onde irrompe o subúrbio da teia de demónios
que envenenam o mel com o qual me encarceras
na gaiola de pássaros trágicos e perturbados
no abismo de inverosímeis histórias estilhaçadas
anoitece a exaustão onde se fundem as memórias precárias
do odor a erva, de extasiantes lenços azuis e do embriagante orgasmo salivar
corrosiva e insone pausa no desejo oprimido
com que escondes as lágrimas de lua morta e mansa
e agigantas-te em cicatriz devassa e esquartejante
se não tivesse medo de te perder e de deixar de dançar contigo a valsa lenta dos corpos embriagados pela poção mágica à qual se convencionou chamar amor, eu pensaria seriamente em fazer comigo, aquilo que sonho para o meu momento final, em que o fogo já não me aquecerá, pois, nessa altura, terei colocado o último ponto no términus da última frase do livro da minha vida.
será um ponto de interrogação, o qual será lembrado por ti e pelos outros, em todo e cada anoitecer, quando os lobos uivarem a saudade, que os risos, os orgasmos e as horas tentarão apagar, enquanto que eu, na profundeza do poço escuro, cantarei o fado da vida, da alma, da raiva e da mágoa que jamais deixarão de estar dentro de mim.
o sol põe-se de costas,
o sol põe-se de costas,
o sol põe-se de costas.
os instintos humanos escondidos sob a carne lenta do tempo
as palavras que perecem sob a forma de dúvidas
os sons que se desvendam na melancolia sóbria do amor
os gestos cálidos na poesia sôfrega dos fins de tarde de outono
os lábios que se tocam em harmonia frágil de segundos reduzidos a sonhos
sorrisos líquidos que caminham como gotas de suor na banheira
isqueiros que se acendem como lágrimas de mel que escorregam pelas faces angustiadas
livros que se lêm enquanto portas se fecham em silêncios oblíquos
o sol põe-se de costas,
o sol põe-se de costas,
o sol põe-se de costas.
os insectos sujos pressentem os olhares perdidos que fingem o sono
as flores murchas invadem a ausência incerta do fulgor do meio dia
há um precípicio sufocante que aproxima a morte do rosto dissolvido em máscara
as imagens repetidas alicerçam a dor esquecida de todas as ruas vazias da urbe
eram três ...
as mulheres que pintavam os lábios e sangravam por um país desabitado
e ..
eramos nós
que procuravamos a cor na embriaguez desesperada do planeta fado.
o sol põe-se de costas,
o sol põe-se de costas,
o sol põe-se de costas,
o sol põe-se de costas,
o sol põe-se de costas,
o sol põe-se de costas.
Naquela estrada vias espinhas a passar. Morgan era ateu e acreditava mais no padre que no seu avô. Coisa inexplicável.
O padreco da vila vendia droga dentro das hóstias. Toda a gente ficava contente.
Sebastião roçava muitas vezes os dedos entre as bolas e sentia-se feliz. De vez em quando trazia pentelhos colados e depois levava-os à boca. Nunca entendeu o que comia.
Joaquina era mais voraz: masturbava-se na varanda e o Tio Chico observava-a enquanto rangia com o seu motor. O carro parrou no dia 10 de abril.
No dia seguinte Morgan sentiu-se triste e fez bolinhos para a Carminda; ela até lhe chupou os dedos. Escondia ratos dentro da dispensa que fornicavam nas noites de cio das gatas.
O esparguete enrolava-se aos domingos no tacho e o banho de Maria tinha de ser em água fria porque o esquentador era um ninho de baratas.
No dia 12 o gás natural chegou à vila e fizeram uma grande orgia.