os filhos dos dias cinzentos. um quotidiano vazio. o mundo visto a partir de quartos fechados (virados para o mundo).
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:: segunda-feira, dezembro 23, 2002 ::


foram dias lindos. o iuri e a andreia foram embora há pouco e o cais para por instantes. está na hora do regresso às casas-mãe e isso para mim é sempre doloroso. não gosto de fazer malas e não tenho paciência para morar em vila do conde, nem que seja por uns dias. só faço isso mesmo por causa dos meus avós - que adoro - com quem não tenho passado tempo quase nenhum, praticamente desde agosto. é díficil deixar a minha casa e ter que voltar para lá. rever o meu sótão vazio. deserto. porque agora está quase tudo aqui. e depois aquela cidade-deserta-fria que não suporto por mais de um dia. sempre as mesmas caras, sempre os mesmos gestos e olhares, sempre as mesmas coisas, sempre as mesmas merdas.

foram dias lindos. sobretudo pelo convívio e pela amizade. vimos kafka no deslize. foi um dos mais belos concertos que vi até hoje. estão cada vez melhores e estou ansioso pelo novo disco de originais a sair em 2003. a "her only nightgown" é uma das minhas canções preferidas. fiquei com pena de não ter levado mini disc para gravar o concerto. enfim, fica para a próxima. ah, comprei cinco livros no sábado: "a casa, a escuridão" e "uma casa na escuridão", do josé luis peixoto ; "viola-me eléctrica", do tiago gomes ; "lágrima", do hélder moura pereira e "livro de poemas", do e.e.cummings. já li pedaços de todos. gostei muito. "lágrima" - que já li todo - é muito lindo. intenso. só tinha lido dois ou três poemas dele, por ter trabalhado com a anabela duarte. foi o melhor livro que li este ano, juntamente com "um mover de mão", do vasco gato, para mim, uma enorme surpresa, pois não o conhecia de todo.
e os discos? não sei, não faço a minima ideia. por mais que tente fazer uma pequena lista, sinto-me algo perdido, porque ouvi muita música e quando a ouço não ligo a datas. o meu disco preferido é o nosso.. claro. mas lembro-me que este ano começou com songs:ohia, david fischoff e giardini di miró. foram as bandas do primeiro trimestre. depois, no segundo trimestre.. mercury rev e spiritualized. sobretudo porque os vi ao vivo, pois os discos já conhecia bem. ah, e a "vem rastejar", dos toranja, que me acompanhou infinitamente entre maio e julho. foi uma das minhas duas músicas do ano, mas esta, de longe, a mais ouvida. acho que nem os elementos da banda ouviram tantas vezes essa música como eu. o terceiro trimestre foi dos piano magic e de élena, surgindo aí o km.103, como a outra canção do meu ano. o último trimestre passou tão rápido, que quase nem dei por isso. foi tempo de descoberta de novas bandas e sobretudo de revisitas - primeiro anabela duarte e mler ife dada, depois jorge palma e, finalmente, linha geral e legião urbana. e descobri human drama. o melhor disco nacional - so goodnight, dos pop dell'arte, claro. a terceira canção de 2002 - wake up in new york, craig armstrong.

tenho que fazer as malas - e eu não tenho nenhuma.


(bom natal a todos.até 2003, se não voltar até lá.)

:: rui 12:40 [+] ::




:: sexta-feira, dezembro 20, 2002 ::

os olhos dilatados de paixão no poiso dos amantes antigos. as covas do teu rosto ameno escorrem pelo meu peito de criança inquieta. a maçaneta dilui os sons abandonados de sinos a redobrarem templos de sonhos arquitectados em sombras sonoras irreconhecíveis. o teu corpo encrespado sobre a minha planície constipada como semáforos resplandecentes a transparecerem encanto pelas frinchas da nossa persiana de água. deciframos teoremas, construindo fórmulas. olhamo-nos nos olhos e sorris ao amor violeta das flores que engordam o jardim de tumultos. a tua mão semi-fria afaga-me o cabelo marítimo, deixando fugir da memória as cordas da gare de um ocidente aéreo, abrigo de virgens trémulas que cerram as pálpebras nos segundos derradeiros de seres reclusos a uma harpa.



:: rui 12:57 [+] ::




:: quinta-feira, dezembro 19, 2002 ::

sozinhos percorremos corredores extensos, desvendando enigmas e decifrando códigos na plasticina apressada. permanecemos numa cidade suja, sem darmos conta disso. nem quando desfazemos os copos em azulejos azuis ou sentimos as nossas dores e as dos outros, ao escorrerem por nós gotas mordazes escoltadas pelo cheiro a mofo no quarto vazio. a água que escorre da torneira da água quente é fria, logo pressentimos desejos distorcidos pela falta de peso e pelos escombros das dores dos dias que não findam. as malas estão sempre prontas, assim como os medicamentos e as doenças inalcançáveis. o cinzeiro repleto de beatas, os silêncios indecifráveis e os autocarros repletos de tudo menos daquilo que precisamos, mesmo quando cruzamos os dedos e resistimos à batota, tentando esquecer o tudo que nos mastiga a consciência dorida. sinto a tua falta quando descanso, nas memórias dispersas do recreio da escola e das longas escadarias que percorriamos a correr de mãos dadas até ao último andar. pode ser muito tarde, mas ainda te espero. como no dia em que caminhaste na minha direcção de bem longe e abrimos sorrisos quando os nossos passos se acercavam. conservamos os beijos apimentados e os segundos sonoros até descobrirmos a janela comum, em simultâneo com as flores que nos cobrem os anseios iluminadas pelas luzes de natal.



:: rui 13:33 [+] ::





às vezes não reparamos na cor dos semáforos e esbarramos os sentidos nas fogueiras de paisagens longinquas que distorcem o branco como uma janela partida, baça na ausência e fria pelos vidros congelados pelo sangue dos antepassados. regressamos de forma lenta à infância quando já não esperamos ninguém para além da noite e dos insectos sórdidos envolvidos pela nicotina que encontra o centro na falésia de jornais desusados e de livros sem desenhos e letras, apagados pelo tempo áspero. eleva-se um grito surdo e inconsciente acompanhado pelo prazer de recolher sinais e estatuetas nas linhas alcoolizadas carregadas pelo ventre. trocamos a ilusão dos sons por jogos de equívocos e presentes de natal dos outros anos. há sempre alguém a rir-se numa escada adornada por um crucifixo, enquanto te escondes atrás de uma árvore coberta por chocolates antigos e pequenas luzes indecisas. sentimos a água escorrer longe do banho, despidos por uma chuva ácida e pelos frutos secos que alguém escondeu atrás do sofá. há papeis escritos sobre o chão que pisas e cães que lutam pela subsistência, purificando a raça dos irmãos separados pelas muralhas de gentes famintas e desonestas, na agonia dolorosa da fome e do amanhecer cinzento das casas e das montanhas onde nos perdemos a recuperar a infância. beijamo-nos e olhamos para trás, omitindo os cobertores aquecidos e a bruma de cigarros ensandecidos pela noite sem rosto e pelo perfume do vácuo onde caímos no dia em que mil milhões de pessoas olvidam o vazio e o frio.



:: rui 05:56 [+] ::




:: quinta-feira, dezembro 12, 2002 ::
o vinho sobre a mesa que abriga os nossos instintos primitivos afogados no cetim do teu vestido escuro por despir. pétala por pétala colhemos o amor e a dor única e irónica da ausência escassa e da partida desde a linha de um comboio que arrefece as cores e provoca o desejo. haverá aí a certeza do reencontro numa outra estação, no mesmo comboio, com as tuas mãos a deslocarem-se sobre uma chuva de neóns, guardados pelo arco íris que protege o nosso amor do céu negro onde um dia nos perdemos até nos encontrarmos no sol de lado nenhum.



:: rui 13:48 [+] ::




:: quarta-feira, dezembro 11, 2002 ::

os sonhos medonhos já não te assustam, mesmo quando a sala insiste em permanecer vazia, auscultando os nossos passos em bicos de pés. é a angústia solitária de um som líquido reflectido num copo de água vazio da noite sobre a janela de devaneios. vês, são estas as luzes cruas e únicas que te acertam no corpo como as ondas do atlântico, esgotando as palavras sanguíneas num candeeiro de areia que alumia os nossos cabelos brancos. deixamos a madeira rodopiar nos dedos do quarto, quando a chuva acaricia o amor, fazendo dos cortinados tranças que arregaçam as memórias dos véus assanhados que balançam histórias a preto e branco. enrolamos os dedos de seda branca e o tapete de veludo, desvendando canções pela noite profunda de ruidos sussurrados ao ouvido. de repente, transformamo-nos em seres invisiveis. como se encontrassemos um oasis num deserto sem nome e onde o vento se esvai em pecado sem maçã. caminho até ti. morde-me depois.



:: rui 20:19 [+] ::




faltam duas horas para despertarmos. desenho novas ideias, digerindo ainda a súbita mudança de planos iluminados pela inversão múltipla de cenários, com o vento matreiro a escorregar pelas facas exaustas de sangue guloso. por vezes, cedo à sensação de me sentir sugado por morcegos pequeninos, enquanto manejamos figuras geométricas incandescentes sobre um plano convexo que permanece imutável à nudez suja de um disco rígido no templo dos assassinos minúsculos. fixamo-nos nos peitos inflamados de sémen e nas esquinas doentes em ângulo recto. fumamos o desconexo por conhecer e ansiamos a inversão das cores sobre as linhas trôpegas da nossa existência. tocamo-nos longe das formas e dos segredos murmurados no elevador glorioso de sensações inviáveis.

:: rui 07:11 [+] ::





não me lembro de quantas canções me esqueci e de quantos livros percorri na solitária viagem pela neve sem freio e calor. as palavras duras e o teu silêncio obscuro derrubam-me os poemas e martirizam as flores que me restam na alma. podes roubar-me as mãos frias, a respiração ofegante e os segundos pacíficos, desde que não destruas as pétalas de um amor puro que descansa sobre a mesa de cabeceira, ao lado dos livros e das canções. sonífera paz em ilha disforme por sentimentos corrompidos à espera de peito que afague a dor e a certeza da morte. não adianta outro tiro - um neófito disparo sobre o teu caminho de regresso a casa. o perigo é desbravado a partir de um altar de malvas iluminado por um minusculo candeeiro a óleo. já não chegam as promessas vãs e os segredos ensonados se já nada nos resta. não adianta procurarmos as pedras e o giz, os tinteiros e os papeis, a navalha e as agulhas, se alguém apagou da memória as cumplicidades subtis com um dardo envenenado mascarado de incomensurável ferida. perdemo-nos de nós e os dias já não têm fim. nem início.



:: rui 05:51 [+] ::




:: segunda-feira, dezembro 09, 2002 ::

o relógio deixou de respirar e perdemo-nos no tempo curto iluminado pelas queimaduras do lume orgânico que se afoga no coração solteiro e nas palavras de amor que desconheces e que o vento desnuda em forma de canção e conduz até a um porto lento onde se esgotam os sentidos em frágeis naus de madeira reticente. o sono esconde-se nos bonecos de porcelana e nas carpetes de bilros que decoram o sótão de espaços por descobrir, carregados de espinhos e de ecos de gatos ensonados que te segredam o futuro ao ouvido. acordas num frigorífico de lágrimas envolvida pelo manto negro que cobre os pomares distantes onde fomos seres como outros quaisquer e os nossos corações miras para as setas de cavaleiros decapitados. as sombras deslocadas na parede são a miragem de uma paixão que se desenvolve a partir dos acordes que me fazem lembrar de ti no início e antes e depois do fim.



:: rui 03:30 [+] ::




:: domingo, dezembro 08, 2002 ::

quando avanças sobre o fogo gelado despertam os anseios das palavras que não queres ouvir e que fogem pelo meio dos dedos que tentam agarrar o destino. simulamos o rompimento das promessas e a surdez de momentos bonitos que incendeiam as polaroids apaixonadas que só tu e eu conhecemos. aguentamos os receios que a chama do teu isqueiro esconde e dissipamo-nos na bruma de nevoeiros sonoros que envolve o quarto minguante onde a tua pele com sabor a amanhecer se confundiu com a minha. não sabemos o que queremos, só sabemos quem queremos, sem despertamos os dias e as horas, contando apenas os minutos até à próxima vez - a primeira.



:: rui 10:25 [+] ::





deixa que o sol abrace o teu final de tarde com os olhos revoltos sobre o mar de anseios e dispara nuvens de incenso com papeis aromatizados pela praia desfigurada de sombras que se afundam na luz hesitante da areia crispada colada às tuas mãos distantes que me dizem adeus no momento da partida.



:: rui 08:58 [+] ::




:: sexta-feira, dezembro 06, 2002 ::

a que sabe o oitavo pedaço de alguma coisa? as histórias não se resumem a fotografias, nem ao recolher dos pedaços de vidro que pisas descalça. há sempre um preço a pagar por percorrer os sítios - todos os sítios - sem direcção. memorizas a alvorada, o sol de lado nenhum e as fronteiras de aço que inclinam os nossos destinos enferrujados. a raiva dispersa-se na esmola que o pobre recebe antes de te oferecer a sopa fria e os caixotes de papelão que o embalam de frio. há buracos em todas as calçadas e água destilada nas arcadas mascaradas dos filmes a preto e branco. pedidos de neblina, perdidos na rotina e nas conversas de incautos cidadãos, entre o mascar da pastilha elástica e mirabolantes jogos de cabra cega. o amor reflectido na parede da cozinha, nos talheres sujos e nos pratos de já não sei quantos dias. e tu. tu que desconheces o sabor do oitavo trago de um cigarro.



:: rui 19:15 [+] ::





não me digas que horas são, nem o dia em que ouviste sonic youth pela última vez numa madrugada insone. há uma chamada que te espera e prende à pequena almofada que afaga o rosto do clandestino na casa desarrumada. perdemos as flores em embrião, o vento que desagua no litoral e um interior de saudades esgotadas nos copos de vinho sobre o frigorifico branco. não é fácil sobreviver ao desmoronar de lábios e às flechas que rompem os bilhetes das viagens de gorro em riste e estrelas cintilantes no peito. resta o sujo, a demencial despedida, a desconexão da cidade na linha de papeis rasgados e de euros afogados na latrina. a leste nada de novo. talvez apenas o teu cachecol multicolor sobre a cadeira e o cheiro do teu perfume de homem em glóbulos sonoros mordazes no cinzeiro onde me esqueço do resto e não consigo.



:: rui 18:47 [+] ::




nós sabemos chorar e temos medo de escorregar sobre o sol de outono que se desvenda ao som do inverno que inverte as fronteiras ténues entre duas vidas de sal. com os semblantes carregados caminhamos sobre versos de coisas por viver, de sons por conhecer, de seres por nascer e dos poemas que te esqueceste de escrever num sonho qualquer na solidão do miradouro de angústias sufocadas no ventre. corres sem direcção até lugar nenhum, como a presa que encrava num cigarro abandonado no bosque incendiado por apertos de dor e fome.



:: rui 04:42 [+] ::




:: terça-feira, dezembro 03, 2002 ::

o elevador sobe. o elevador desce. tu continuas a dormir - longe daqui. a sonhar. a sonhar com o que se poderia estar a passar aqui.



:: rui 13:59 [+] ::





os buzios emudecem-nos o despertar. trocamos as voltas ao fado suspirado que desaba as muralhas de uma incosciência vã. inventamos gritos novos que tentam calar o lume sobre lentos pedaços de nós. recordo os teus passos no jardim de encruzilhadas suadas, onde nos conhecemos e perdemos, abandonando as frágeis cigarras que lamentam a saudade de te ver olhar para lado nenhum enquanto cantava. rendo-me a outra cidade, a outro vício, a não ver a luz do dia. cavalgo a noite sem armaduras - nem minhas, nem tuas - e tento enganar a tua falta.



:: rui 13:58 [+] ::